Festa da dedicação ao Criador é símbolo de resistência à idolatria e corrupção religiosa.
Celebrada anualmente no calendário bíblico, a Chanukah é mais do que uma festividade cultural judaica. Trata-se de uma memória espiritual profunda, ligada à fidelidade às Escrituras, à resistência contra a idolatria e à reafirmação da dedicação exclusiva a Yhwh, o Criador de tudo que existe no céu e na Terra. Embora popularmente associada ao período de dezembro, a origem de Chanukah remonta a eventos muito anteriores ao domínio helenístico, com raízes diretas no período do Segundo Templo e nas promessas registradas pelos profetas.
A origem bíblica: a dedicação do alicerce do Segundo Templo.
A base teológica de Chanukah encontra-se no livro do profeta Hagai (Ageu). No 24º dia do 9º mês, Yhwh orienta o povo a considerar aquele dia como marco espiritual: o momento em que o alicerce do Segundo Templo foi lançado.
Nesse contexto, Yhwh declara que, apesar das impurezas, falhas e negligências do povo, a partir daquele dia Ele os abençoaria, pois a obra do Templo fora dedicada a Ele. A promessa conclui com um chamado à restauração da fidelidade e à centralidade da adoração legítima.
Esse ato de dedicação — chanukah, em hebraico — estabelece o fundamento espiritual da festa: consagrar-se e separar-se exclusivamente a Yhwh.
O período dos macabeus e a profanação do Templo.
Séculos depois, no 25º dia do 9º mês, durante o domínio helenístico, o Templo de Yhwh sofreu uma de suas maiores profanações. Conforme relatado nos livros de I e II Macabeus, uma estátua de Zeus foi erguida no lugar sagrado.
O povo foi forçado a:
- Comer carne de porco, considerada imunda pelas Escrituras;
- Oferecer sacrifícios a deuses helênicos;
- Renegar a Torá sob ameaça de morte.
A crueldade desse período é simbolizada no relato de uma mulher e seus sete filhos, mortos por se recusarem a abandonar a fidelidade ao Criador e comer carne de porco e trabalhar na shabat. O episódio tornou-se um dos testemunhos mais fortes de resistência espiritual da história de Israel.
O milagre dos oito dias.
Após a revolta liderada pelos macabeus e a retomada do Templo, ocorreu o episódio que consolidou Chanukah como festa memorial. No 25º dia do 9º mês, ao purificar o lugar separado, encontrou-se apenas uma pequena porção de óleo puro, suficiente para manter a lâmpada sagrada acesa por um único dia.
Segundo a tradição, Yhwh multiplicou o óleo, e a chama permaneceu acesa por oito dias, tempo necessário para a preparação de novo óleo consagrado. O milagre tornou-se sinal de misericórdia divina e reafirmação de que a dedicação sincera não passa despercebida.
Yeshua e a celebração de Chanukah.
O caráter legítimo de Chanukah também é reforçado no livro de Yohanan (João), que registra Yeshua celebrando a Chanukah (Festa da dedicação) no Templo. Sua presença naquele contexto aponta para a fidelidade de Yeshua às Escrituras e do reconhecimento da centralidade do Templo como lugar dedicado a Yhwh.
Chanukah e o contraste com o Natal.
Originalmente, Chanukah surge como oposição direta à idolatria e à assimilação religiosa. Nesse sentido, o contraste com o Natal é inevitável. A origem do Natal está associada a cultos solares, especialmente às celebrações do Sol Invictus e ao deus Mitra, ligadas ao solstício de inverno e à crença de que o astro-rei merecia veneração.
Enquanto a Chanukah celebra a dedicação exclusiva a Yhwh, o Natal nasce de uma tradição que exalta fenômenos cósmicos e divindades solares, posteriormente reinterpretadas dentro do cristianismo imperial.
Uma crítica ao presente.
Com o passar do tempo, muitos passaram a celebrar Chanukah de forma cada vez mais semelhante ao Natal — com excesso de símbolos comerciais, troca de presentes e esvaziamento do significado espiritual. Essa prática gera um paradoxo: uma festa criada para resistir à idolatria acaba, em certos contextos, assumindo formas semelhantes à celebração que historicamente se opunha.
A Chanukah não foi instituída para competir em brilho ou consumo, mas para recordar que dedicar-se a Yhwh exige fidelidade, separação e memória histórica. Quando essa essência se perde, a festa corre o risco de se tornar apenas mais um evento cultural — distante de sua razão original.
Um chamado a reflexão.
A Chanukah permanece como um chamado à reflexão: sobre a quem se dedica o que é sagrado, sobre os riscos da assimilação dos deuses gentios e sobre a importância de preservar a memória espiritual sem diluí-la. Em tempos de sincretismo e superficialidade, a festa recorda que a verdadeira luz não vem de astros ou tradições importadas, mas da fidelidade àquilo que foi separado para Yhwh.








