Para compreender verdadeiramente qualquer obra escrita, é essencial mergulhar em seu contexto histórico, cultural e humano. Isso se aplica plenamente às Escrituras, incluindo o fascinante — e frequentemente mal compreendido — livro da Revelação de Yeshua a Yohanan, mais conhecido como Apocalipse.
Ao contrário do que muitos pensam, este não é um livro de terror ou de catástrofes cegas. Em nossa cultura, criou-se a falsa ideia de que o Apocalipse retrata uma “Guerra do Bem contra o Mal”, mas essa visão simplista distorce seu verdadeiro propósito. Para desfazer esses equívocos, precisamos voltar às origens: quem escreveu, porque e para quem o escreveu.
Yohanan (João), o autor desta revelação, era um Yehudim (judeu) que reconheceu em Yeshua (Jesus) não apenas um mestre, mas o Ungido de Deus (Mashiach), destinado a governar toda a Terra.
Sua história é marcada por lealdade e sofrimento. Ele foi o discípulo mais próximo de Yeshua, a ponto de ser chamado de “o discípulo amado” — uma amizade tão profunda que, em tempos modernos, alguns tentaram distorcê-la com interpretações maldosas, sugerindo improváveis relações além da devoção espiritual.
Yohanan pagou caro por sua fidelidade. Condenado à morte pelo Império Romano, foi lançado em um caldeirão de óleo fervente, mas Deus o poupou milagrosamente. Diante disso, o imperador Domiciano o exilou na ilha de Patmos (atual Turquia), um local reservado aos criminosos considerados perigosos demais para permanecerem em sociedade, mas que, por algum motivo, escapavam da execução.
Quando Yohanan escreveu o Apocalipse, os seguidores de Yeshua — chamados de nazarenos (por sua ligação com o Messias de Nazaré) ou messiânicos (em grego, cristãos, ou seja, “seguidores do Ungido”) — já enfrentavam intensa perseguição. Muitos haviam sido martirizados, e Roma via essa fé como uma ameaça.
Se Deus enviasse uma mensagem direta e explícita, a perseguição se intensificaria, possivelmente inviabilizando até mesmo a futura conversão de Constantino e a oficialização do cristianismo no Império.
Por isso, Yhwh, o Criador sábio, optou por comunicar-Se por meio de símbolos e visões, entregues a Yohanan por um mensageiro celestial (muitas vezes chamado de anjo, mas que poderíamos entender como um ser de origem divina, extraterrestre no sentido de “não terrestre”).
As cartas contidas no Apocalipse foram enviadas a sete congregações na Ásia Menor (atual Turquia), uma região que, séculos depois, se tornaria o coração do Império Bizantino e, mais tarde, do Islã. Por que essa escolha?
Estratégia divina: A Turquia futuramente se libertaria de Roma e se tornaria um centro rival do cristianismo católico, abrigando a primeira grande divisão entre Oriente e Ocidente (o Cisma entre Roma e Constantinopla).
Simbologia profética: Essas congregações representam diferentes tipos de comunidades, cujas virtudes e falhas ecoam através dos séculos, servindo de lição para todos os crentes.
O Apocalipse não foi escrito apenas para os messiânicos do século I. É uma mensagem codificada, mas decifrável, destinada a orientar os fiéis de todos os tempos sobre os eventos que moldariam a história e o fim dos dias. Como diz o próprio texto:
“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.” (Apocalipse 1:3)
Este estudo se concentrará nos três primeiros capítulos do Apocalipse — a visão inicial de Yohanan e as cartas às sete igrejas. Longe de ser um manual de medo, esse texto é um convite à perseverança, ao discernimento e à esperança.
Prepare-se para uma jornada que desmistifica símbolos, resgata a história esquecida e revela como uma mensagem enviada a exilados há dois mil anos ainda fala poderosamente aos nossos dias.
A Revelação começa agora.