Após o dilúvio, quando Yhwh permitiu que Noaḥ e sua descendência incluíssem carne em sua alimentação, ele não deixou margem para confusão: apenas os animais limpos — chamados tahor (puros) — fariam parte do “cardápio divino”.
Como vimos, o termo remesh em Gênesis 9:3 não se refere a “tudo que se move”, como algumas traduções sugerem, mas exclusivamente aos animais que Yhwh separou como próprios para consumo, conforme detalhado em Vayikra (Levítico) 11 e Devarim (Deuteronômio) 14. E é nesse ponto que começamos a mergulhar nas categorias específicas, iniciando pelos quadrúpedes terrestres, os primeiros a serem classificados por Mosheh.
Em Vayikra 11:2-3, Yhwh dá uma instrução clara e precisa aos que caminham em Sua aliança: “De todos os animais terrestres, são estes os que podem comer: todo animal que tem casco fendido, dividido em duas partes, e que ruminam, estes podem comer.”
Dois critérios simples, mas poderosos — como um selo divino gravado na criação —, marcam os animais permitidos: o casco completamente dividido e a ruminação, aquele processo paciente de mastigar novamente o alimento para extrair sua essência.
A vaca, a ovelha, o cervo, a cabra — todos carregam esse selo. Seus cascos se abrem em duas partes distintas, e seus estômagos trabalham em harmonia com a ordem do Criador. Mas Yhwh não para aí. Ele antecipa as dúvidas e, em Vayikra 11:4-8, lista com clareza os quadrúpedes que, mesmo parecendo próximos do padrão, estão fora da aliança alimentar: o camelo, que rumina, mas não tem casco fendido; a lebre e o coelho, que parecem ruminar, mas não têm o casco dividido; e o porco, que tem casco fendido, mas não rumina. “Estes são tame (impuros) para vocês”, declara Yhwh, e vai além: “Não comereis da sua carne, nem tocareis os seus cadáveres.” Não é apenas sobre o que entra na boca, mas sobre o que tocamos, manuseamos, permitimos em nossa vida. Essa proibição não é capricho, mas um chamado à separação — kadosh —, um lembrete diário de que o povo de Yhwh vive de forma distinta, até nas escolhas mais simples do dia a dia.
Por que o porco é proibido? Por que o camelo não pode servir de alimento? As Escrituras não oferecem uma explicação biológica clara, e não precisamos de uma.
O princípio é maior: “Porque eu sou Yhwh, vosso Elohim; separai-vos, pois, e sede separados, porque eu sou separado” (Vayikra 11:44-45).
A alimentação kosher não é apenas sobre saúde, nem sobre tradição — é sobre identidade. É sobre dizer, com cada refeição: “Eu pertenço a Yhwh”.
Para o mosaico-cristão, seguir essas leis é um ato de emunah — fidelidade viva, não legalismo morto.
Na prática, isso significa que, no supermercado, escolhemos carne bovina ou de cordeiro com consciência; evitamos bacon, presunto, linguiça com porco ou cochinilla, mesmo que sejam comuns na cultura ao redor.
No açougue e na cozinha, preparamos refeições que honram o Criador: um ensopado de carne de ovelha com ervas frescas, um assado de cabra com batatas, um prato que não apenas alimenta o corpo, mas eleva a alma.
Imagine sentar-se à mesa com um prato que reflete a vontade de Yhwh: carne permitida, vegetais da terra — uma refeição que ecoa o Éden e aponta para a redenção.
Esse é o convite de Yhwh: alinhar corpo, mente e espírito com sua instrução. Não comemos para sermos salvos, mas porque somos salvos. E nos próximos capítulos, continuaremos essa jornada, explorando as aves, os animais aquáticos, os rastejantes e até os insetos, para que possamos compreender plenamente como viver, em cada detalhe, segundo o padrão de Yhwh.







