Como vimos anteriormente, a shabat do sétimo dia é um sinal eterno da aliança de Yhwh com Seu povo. Porém, ela foi negligenciada por Yisrael em momentos cruciais de sua história, trazendo graves consequências.
Após o retorno do exílio, líderes religiosos buscaram regulamentar sua observância por meio da Lei Oral, atribuindo a ela uma autoridade divina que, no entanto, carece de fundamento na Torá.
O Desprezo pela shabat e a queda de Yisrael
Por muito tempo, o povo de Yisrael, tanto as dez tribos do norte quanto Yehudah no sul, desprezou a Torá e as shabatot, desafiando a soberania de Yhwh.
Esse desprezo foi apontado como um dos principais motivos para sua queda diante de potências estrangeiras. As Escrituras registram com clareza as advertências e consequências desse erro.
Para as dez tribos do norte, conhecidas como Yisrael, o profeta Hoshea (Oséias) denuncia sua infidelidade em Hoshea 8:1-4:
“Põe a trombeta à tua boca! Como águia, vem o inimigo contra a casa de Yhwh, porque transgrediram a minha aliança e se rebelaram contra a minha Torá. […] Rejeitaram o que é bom; o inimigo os perseguirá.”
A negligência às shabatot, um sinal central da aliança, contribuiu para a queda de Yisrael diante da Assíria (Ashur) em 722 AEC, como descrito em 2 Reis 17:16-18:
“Abandonaram todos os mandamentos de Yhwh, seu Deus, […] e Yhwh se indignou grandemente contra Yisrael e os removeu de Sua presença.”
Yehudah, o reino do sul, também enfrentou juízo por desrespeitar as shabatot. Em Yirmeyahu (Jeremias) 17:27, Yhwh adverte:
“Mas, se não me obedecerem e não guardarem a shabat, não refreando suas cargas no dia da shabat e trazendo-as pelas portas de Yerushalayim, então acenderei um fogo nas suas portas, que consumirá os palácios de Yerushalayim e não se apagará.”
Essa profecia se cumpriu quando Nabucodonosor, rei da Babilônia, destruiu Yerushalayim, levando Yehudah ao exílio (2 Crônicas 36:20-21).
A negligência às shabatot, incluindo as shabatot anuais da terra (Levítico 25:4-5), foi um fator determinante, como confirmado em 2 Crônicas 36:21:
“Para que se cumprisse a palavra de Yhwh pela boca de Yirmeyahu, até que a terra desfrutasse as suas shabatot; todos os dias da sua desolação, ela repousou, até que se completassem setenta anos.”
Essas passagens revelam que o desprezo pela shabat não era um erro trivial, mas uma afronta à aliança com Yhwh, resultando em juízo severo. A cessação ordenada pela shabat era um lembrete da soberania do Criador, e sua violação simbolizava a rejeição do governo divino.
A lei oral: uma tentativa humana de regulamentar a shabat
Após o retorno do exílio babilônico, a classe sacerdotal e os líderes religiosos de Yehudah (líderes judeus), movidos pelo desejo de evitar novos juízos, buscaram regulamentar a observância da Torá e da shabat. Para isso, desenvolveram a Lei Oral, um conjunto de tradições e interpretações que, segundo eles, complementava a Torá escrita. Esses líderes, como os escribas e fariseus, atribuíam à Lei Oral uma origem divina, alegando que Yhwh a entregara a Moshe no monte Horeb (Sinai), juntamente com a Torá escrita, para ser transmitida aos patriarcas e ao povo.
A Lei Oral, mais tarde codificada na Mishná e no Talmud, estabelece regras detalhadas para a guarda da shabat. Por exemplo, o tratado Shabbat da Mishná lista 39 categorias de trabalho proibido (melachot), como carregar objetos em domínio público, tecer, escrever ou até amarrar nós. Essas regulamentações visavam criar uma “cerca em torno da Torá”, protegendo o povo de violar os mandamentos. No entanto, essas regras frequentemente iam além do que a Torá exigia, transformando a shabat de um “deleite” (Yeshayahu/Isaías 58:13) em um fardo de restrições minuciosas.
A falta de base na Torá
Embora a intenção dos líderes fosse preservar a obediência, a Lei Oral carece de base real na Torá escrita, que é a revelação direta de Yhwh. A Torá estabelece a shabat como um dia de cessação completa, proibindo trabalho laboral (Shemot 20:10; 35:2-3), mas não especifica as 39 categorias de melachot ou outras restrições detalhadas. Por exemplo:
Carregar Objetos: A Lei Oral proíbe carregar qualquer objeto, mesmo pequeno, em domínio público (Mishná, Shabbat 7:2). Contudo, a Torá só menciona “não carregar cargas” em contextos específicos, como em Yirmeyahu 17:21-22, referindo-se a atividades comerciais em Yerushalayim.
Distâncias de Viagem: A Lei Oral limita a distância que se pode percorrer na shabat (o “limite da shabat”, cerca de 2.000 côvados, baseado em uma interpretação de Êxodo 16:29). A Torá, porém, não impõe tal restrição explícita, apenas exorta o povo a permanecer em seu lugar para cessar.
Acender Fogo: Como vimos anteriormente, a Torá proíbe “acender fogo” (Shemot 35:3), referindo-se ao processo trabalhoso de iniciar chamas. A Lei Oral, no entanto, estende isso a ações como acender velas ou tocar interruptores, práticas que não envolvem trabalho significativo no contexto moderno.
Muitas dessas regulamentações da Lei Oral ainda influenciam as principais tradições judaicas, como o Judaísmo Ortodoxo, que mantém as 39 melachot e outras restrições. Embora o respeito pela shabat seja louvável, essas regras humanas frequentemente desviam o foco da alegria e da comunhão que Yhwh deseja, como prometido em Yeshayahu 58:13-14.
Conclusão.
O desprezo de Yisrael pelas shabatot trouxe juízo, como visto na queda das dez tribos e de Yehudah, enquanto a Lei Oral, embora bem-intencionada, sobrecarregou a shabat com regras sem base na Torá.
A shabat do sétimo dia permanece um convite divino para cessar, adorar e confiar em Yhwh, livre das complicações humanas.