Como vimos, a shabat do sétimo dia e as shabatot anuais são um sinal eterno da aliança de Yhwh com seu povo. Yhwh zela por sua guarda, abomina sua profanação, e Yeshua HaMashiach (o ungido), assim como seus discípulos, as honrou fielmente, mesmo após sua morte e ressurreição.
No entanto, por que tantas religiões abraâmicas, especialmente aquelas que se declaram seguidoras de Yeshua, não guardam a Shabat? Muitos afirmam que Shaul (Paulo), o grande emissário de Yeshua HaMashiach (o ungido), defendia o abandono da Torá e da Shabat. Mas será que essa ideia resiste ao ensino das Escrituras?
O zelo de Shaul pela Torá e pelas shabatot
Um exame cuidadoso revela que Shaul não apenas era zeloso pela Torá escrita, mas viveu de maneira a demonstrar sua fidelidade a ela, incluindo a guarda das shabatot.
Em Atos 21:20-24, encontramos um relato esclarecedor:
“Depois de ouvirem isso, eles começaram a glorificar a Deus, mas disseram a Shaul:
‘Você sabe, irmão, quantos milhares de judeus se tornaram crentes, e todos eles têm zelo pela Torá.
Mas ouviram falar que você está ensinando todos os judeus que vivem entre as nações a abandonar a Torá de Moshe, dizendo-lhes que não circuncidem seus filhos nem sigam os costumes estabelecidos.
O que devemos fazer, então? Eles certamente saberão que você chegou. Portanto, faça o que vamos lhe dizer.
Há, conosco, quatro homens que têm um voto a cumprir.
Leve esses homens com você, purifique-se cerimonialmente junto com eles e cubra as despesas deles, para que tenham a cabeça raspada.
Assim, todos saberão que não é verdade o que se fala sobre você, mas que você está andando corretamente e obedecendo à Torá.’”
Esse episódio, ocorrido em Yerushalayim, desmente as acusações contra Shaul. Os líderes da comunidade de crentes em Yeshua como o ungido, testemunharam que ele e seus companheiros eram zelosos pela Torá.
As críticas vinham de judeus tradicionais, que se apegavam à Lei Oral e interpretavam erroneamente as ações de Shaul entre os gentios.
Longe de abandonar a Torá, Shaul tomou medidas concretas para provar seu compromisso: ele se purificou cerimonialmente, participou de um voto solene e cobriu as despesas para que quatro homens cumprissem seus votos, um ato que incluía raspar a cabeça, conforme a prática descrita em Números 6:18.
Esse gesto público não deixava margem para dúvidas: Shaul respeitava a Torá escrita por Moshe e vivia de acordo com seus preceitos, mostrando que sua mensagem sobre Yeshua, como o Mashiach era plenamente compatível com a obediência à Lei de Yhwh.
As acusações contra ele eram rumores infundados, propagados por aqueles que não compreendiam sua missão de levar as Boas Novas a todas as nações.
Além disso, Shaul guardava as shabatot, como vimos anteriormente. Em Atos 17:2, ele frequentava a sinagoga “segundo o seu costume”, e em Atos 16:13, buscou um lugar de oração na shabat em Filipos.
Seu zelo pela Torá e pelas shabatot é um exemplo inspirador para todos que buscam alinhar sua conduta com os mandamentos de Yhwh.
O verdadeiro sentido de Colossenses 2:16-17.
Um dos trechos mais citados para sugerir que a shabat não é mais relevante é Colossenses 2:16-17, frequentemente mal interpretado.
O texto diz: “Portanto, não deixem que ninguém julgue vocês pelo que comem ou bebem, ou com respeito à celebração de uma festividade, da lua nova ou de uma shabat.
Essas coisas são uma sombra do que viria, mas a realidade pertence ao Ungido.”
À primeira vista, alguns interpretam essas palavras de Shaul como uma liberação das práticas da Torá, sugerindo que a guarda da Shabat, as leis alimentares ou as festividades seriam opcionais para os gentios.
No entanto, essa leitura ignora o contexto histórico e cultural da carta aos colossenses.
Os colossenses eram gentios vivendo em uma cidade predominantemente helênica.
Seria improvável que seus conterrâneos não crentes os julgassem por não guardar a Shabat ou por não seguir as leis alimentares, práticas desconhecidas na cultura local.
No entanto, se os crentes colossenses guardassem a shabat, celebrassem a Lua Nova e seguissem as leis alimentares, isso causaria estranheza à comunidade helênica.
Além disso, outro grupo os julgava: judeus que aderiam à Lei Oral, uma coleção de tradições rabínicas que extrapolavam a Torá escrita, como vimos anteriormente.
Essas tradições incluíam regras rígidas e não respaldadas pela Torá, como a exigência de circuncisão para guardar a shabat ou abster-se de alimentos impuros.
Quando Shaul exorta os colossenses a não se deixarem julgar “pelo que comem ou bebem, ou com respeito à celebração de uma festividade, da lua nova ou de uma shabat”, ele não está invalidando essas práticas.
Pelo contrário, o contexto sugere que os colossenses crentes estavam observando a shabat, as festas e as leis alimentares, mas enfrentavam críticas de judeus legalistas, que impunham a Lei Oral, e de gentios helênicos, que estranhavam essas práticas.
Shaul os encoraja a permanecer firmes na liberdade do Mashiach, que cumpre a Torá sem as amarras das tradições humanas.
A expressão “sombra do que viria” não desvaloriza a shabat ou as festas, mas aponta para seu significado profético, prefigurando as realidades espirituais reveladas.
Se os colossenses não guardassem a Shabat ou as leis alimentares, não haveria motivo para serem julgados pelos defensores da Lei Oral ou pela comunidade local.
O fato de enfrentarem críticas indica que praticavam essas observâncias, mas de uma maneira que desafiava as tradições rabínicas.
Assim, Colossenses 2:16-17 não justifica a profanação da Shabat, mas protege os crentes de julgamentos baseados em regras humanas que obscurecem a essência da Torá.
A acusação de Stefanos
O livro de Ma’asei HaShlichim (Atos dos Apóstolos) apresenta, nos capítulos 6 e 7, a história vibrante de Stefanos, frequentemente chamado de Estevão. Escolhido como diácono, Stefanos era um homem cheio do Espírito de Yhwh, realizando sinais, curas e superando em debates os líderes religiosos de sua época. Sua ousadia despertou a inveja de adversários, que o acusaram falsamente de blasfêmia, levando-o à morte.
No momento de seu julgamento, Stefanos pronunciou uma acusação poderosa contra seus acusadores, registrada em Atos 7:53:
“Vocês receberam a Torá, conforme transmitida por mensageiros celestiais, mas não a guardaram.”
Essa declaração é um divisor de águas.
Se a Torá tivesse sido abolida após a morte e ressurreição de Yeshua, qual seria o sentido da acusação de Stefanos? Nenhum.
A força de sua crítica reside no fato de que a Torá permanecia válida e obrigatória, e os líderes religiosos, apesar de sua aparente devoção, falhavam em obedecê-la verdadeiramente, priorizando tradições humanas em detrimento dos mandamentos de Yhwh.
Yeshua mesmo afirmou a permanência da Torá em Matay (Mateus) 5:18: “Porque, em verdade, vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um yod ou um traço da Torá passará, até que tudo se cumpra.”
Aqui, Yeshua enfatiza que a Torá é eterna e imutável.
Cada yod, a menor letra do alfabeto hebraico, simboliza a precisão e a integralidade dos mandamentos de Yhwh.
Shaul ecoa essa ideia em Colossenses 2:17, descrevendo a shabat e outros mandamentos como “uma sombra das coisas que viriam, mas a realidade pertence ao Mashiach.”
Assim, as shabatot, incluindo a shabat do sétimo dia, são tanto mandamentos a serem obedecidos quanto símbolos que conectam o passado, o presente e o futuro.
Elas relembram a criação divina, refletem a aliança de Yhwh com Seu povo e prenunciam as ações futuras do Mashiach.
A acusação de Stefanos desafia todos nós a examinarmos nossa relação com a Torá.
Longe de ser um fardo, ela é um presente que nos guia à obediência e nos aproxima de Yhwh. O fato de o primeiro mártir entre os seguidores de Yeshua ter morrido, acusando os líderes religiosos de profaná-la, demonstra a importância da Torá e da Shabat para os primeiros crentes.
Guardar a Shabat é um ato de fidelidade que honra o Criador e alinha o fiel com Seu plano redentor.
Conclusão.
A ideia de que Shaul ensinava o desprezo pela Torá e pela Shabat é um mal-entendido refutado pelas Escrituras.
Shaul era zeloso pela Torá, como visto em Atos 21:20-24, e guardava as shabatot fielmente.
Colossenses 2:16-17, corretamente interpretado, protege os crentes de julgamentos baseados em tradições humanas, não da obediência à Shabat.
A acusação de Stefanos em Atos 7:53 reforça que a Torá permanece válida, um guia eterno para os seguidores de Yeshua.