Entre todos os shabats ordenados por Yhwh (Deus), o Yom Kippur (Dia da Expiação) se destaca como o dia mais sagrado (kadosh/separado) do ano, um momento solene de introspecção, arrependimento e reconciliação com o Criador.
Diferentemente dos shabats semanais, que proíbem todo trabalho, e dos shabats anuais do Pessach (Capítulo 14) e Shavuot (Capítulo 17), que restringem apenas o trabalho servil, o Yom Kippur exige a cessação total de qualquer atividade e a ordem única de “afligir a si mesmos”.
O Mandamento do Yom Kippur
Vayikra (Levítico) 23:26-32 estabelece:
“Yhwh (Deus) falou a Moshe (Moisés): ‘No dia dez do sétimo mês, será o Yom Kippur (Dia da Expiação).
Realizarão um congresso kadosh (separado); afligirão a si mesmos e apresentarão a Yhwh (Deus) uma oferta feita por fogo.
Não farão nenhum trabalho nesse dia, pois é um dia de expiação, para fazer expiação por vocês perante Yhwh (Deus), seu Elohim.
Todo aquele que não afligir a si mesmo nesse dia será eliminado de seu povo. Destruirei dentre seu povo qualquer pessoa que fizer algum trabalho nesse dia. Não façam nenhum trabalho.
É um decreto permanente para todas as suas gerações, onde quer que morarem.
É um shabat de completo descanso; afligirão a si mesmos no dia nove, ao anoitecer, e guardarão este shabat de um anoitecer ao outro.’”
O Yom Kippur, celebrado no 10º dia do sétimo mês (Etanim), é um shabat de shabaton — um descanso absoluto.
Ao contrário do shabat semanal, que proíbe todo trabalho para promover alegria e descanso (Yeshayahu/Isaías 58:13-14, Capítulo 13), ou dos shabats anuais do Pessach, que permitem atividades não servis como preparar alimentos (Capítulo 14), o Yom Kippur exige a suspensão de qualquer trabalho, incluindo prazeres seculares.
A ordem de “afligir a si mesmos” implica um jejum total, do pôr do sol do dia 9 ao pôr do sol do dia 10, acompanhado de meditação profunda sobre os erros cometidos no último ano, arrependimento sincero e oração.
A Singularidade do Yom Kippur
Nos shabats semanais, Yhwh (Deus) nos chama a evitar trabalho, conversas vãs e interesses pessoais, dedicando o dia à adoração e comunhão, como vimos: “Se você chamar o shabat de deleite […] terá grande alegria em Yhwh” (Yeshayahu/Isaías 58:13-14).
Nos shabats anuais como os do Pessach, atividades não servis, como preparar alimentos ou praticar lazer não comercial, são permitidas. Mas no Yom Kippur, o rigor é maior: nenhum trabalho, nenhuma distração secular, apenas introspecção e busca por perdão. O jejum e a “aflição da alma” são atos de humildade, reconhecendo nossa dependência da misericórdia de Yhwh.
Origem e Rituais do Yom Kippur
O Yom Kippur foi instituído após um evento trágico, descrito em Vayikra (Levítico/Chamou) 16, logo após a morte de Nadav (Nadabe) e Avihu (Abiú), filhos de Aharom (Arão).
Eles, em estado de embriaguez, ofereceram “fogo estranho” no Mishkan (Tabernáculo) no primeiro dia do ano, no segundo ano após a saída de Mitzrayim (Egito), e foram consumidos pela presença de Yhwh (Vayikra/Levítico 10:1-2). Esse incidente destacou a necessidade de uma expiação anual para purificar o povo e o lugar separado.
Vayikra (Levítico) 16:1-14 detalha o ritual:
“Yhwh (Deus) disse a Moshe (Moisés): ‘Diga a Aharom (Arão), teu irmão, que não entre a qualquer momento no lugar kadosh (separado) atrás da cortina, diante da tampa da Arca, para que não morra, pois aparecerei numa nuvem sobre a tampa.
Aharom (Arão) trará um novilho como oferta pelo pecado e um carneiro como oferta queimada. Vestirá as vestes kadosh (separadas) de linho, banhando-se antes.
Receberá da assembleia de Yisrael (Israel) dois cabritos como oferta pelo pecado e um carneiro como oferta queimada. Aharom (Arão) apresentará o novilho pelos seus próprios pecados, fazendo expiação por si e sua casa. […] Pegará o incensário com brasas do altar e incenso perfumado, levando-os atrás da cortina. O incenso formará uma nuvem sobre a tampa da Arca, para que não morra. Aspergirá o sangue do novilho sete vezes diante da tampa.’”
O ritual do Yom Kippur era complexo e simbólico:
Expiação do Sumo Sacerdote: Aharom (Arão), como kohen gadol (sumo sacerdote), primeiro oferecia um novilho para expiar seus próprios pecados, reconhecendo sua condição pecadora.
Dois Cabritos: Dois cabritos eram apresentados; um era sacrificado como oferta pelo pecado do povo, e o outro, o “bode emissário” (Azazel), recebia simbolicamente os pecados da nação e era enviado ao deserto (Vayikra/Levítico 16:15-22).
Purificação do Lugar Separado: O sangue das ofertas purificava o Mishkan (Tabernáculo), removendo a contaminação dos pecados de Yisrael (Israel).
Esses rituais apontavam para a necessidade de expiação e a separação de Yhwh, que não tolera o pecado em Sua presença.
Vivendo o Yom Kippur Hoje
Embora não tenhamos mais o Mishkan (Tabernáculo) ou sacrifícios, o Yom Kippur permanece um shabat kadosh (separado).
Os fíeis a Yhwh são chamados a observar o dia 10 de Etanim (7º mês) com jejum, oração e meditação, refletindo sobre seus erros e buscando arrependimento.
É um momento para “afligir a alma”, examinando o coração e renovando a aliança com Yhwh através da obra de Yeshua. Evitando qualquer atividade secular, dedicando o dia exclusivamente à comunhão com o Criador, como ordenado: “É um shabat de completo descanso” (Vayikra/Levítico 23:32).
Um Convite à Reconciliação
Imagine um dia em que você silencia o mundo, jejua e se volta para Yhwh (Deus), confessando seus erros e recebendo Sua misericórdia. O Yom Kippur é mais do que um shabat; é o dia mais kadosh do ano, um chamado à humildade e à reconciliação.
Ao guardá-lo com reverência, você se alinha ao plano de Yhwh, antecipando o dia em que Yeshua HaMashiach completará a expiação final. Que possamos viver este dia com um coração quebrantado, prontos para sermos purificados pelo Cordeiro de Yhwh!